Como receber a absolvição dos pecados sem a Confissão sacramental? A contrição perfeita


[Utilíssimos esclarecimentos dados pelo Pe. Leonardo Wagner, pároco da Par. Pessoal
Nª Sª do Rosário de Fátima e Sto. Antônio de Pádua no Rio de Janeiro]

EXISTE UM MEIO pelo qual Deus perdoa os nossos pecados antes mesmo da Confissão; este meio é a contrição perfeita. Estamos tratando de algo extremamente importante nos nossos tempos, em que as igrejas encontram-se fechadas por força de uma pandemia, e é difícil encontrar um padre para ouvir a nossa confissão. Assim, todos aqueles que cometeram pecados graves e que desgraçadamente se encontram impedidos de confessá-los, saibam que sempre teremos esse precioso recurso para a reconciliação sem demora com Deus. Mas o que vem a ser a contrição perfeita, afinal?
Como ser perdoado por Deus sem ir ao sacerdote para confessar os nossos pecados? Há algum meio de receber o perdão dos pecados graves sem confissão? Os padres não estão atendendo confissões por causa do coronavírus, o que fazer? Vejamos...


Em sua infinita misericórdia, Deus pôs à disposição de seus filhos, para a sua santificação, uma incomensurável quantidade de dons e graças. Alguns desses favores divinos, Ele os dispensa a todo e qualquer fiel. Outros, em sua sabedoria, o Criador os reserva a algumas almas eleitas: é o caso dos dons como o da profecia, o de fazer milagres e outros, concedidos apenas em determinadas circunstâncias, de acordo com as necessidades da Santa Igreja.


Há um outro dom divino muito especial, mas que não é reservado a alguns. Antes, esta graça divina maravilhosa está sempre ao alcance de todos os fiéis, sem qualquer exceção. Mais ainda, esse dom é de fundamental importância na vida espiritual de todo batizado. Estamos falando da contrição perfeita.


A contrição – ou arrependimento – é a dor de alma que a pessoa sente por haver pecado; essa dor só é verdadeira quando o pecador detesta a má ação praticada e tem o firme e honesto propósito de não mais pecar. Por exemplo, se um marido adúltero se diz arrependido pelo seu pecado, mas não tem intenção de terminar o relacionamento com sua mante, isto é, não tem verdadeiro horror ao pecado em si e nem esta determinado a abandoná-lo, nem faz o real propósito de se corrigir, então não está contrito.


Para ser autêntica, a contrição precisa ser interna, ou seja, provir de fato da alma, não pode reduzir-se a meras palavras pronunciadas.


Deve também ser geral, isto é, abranger todos os pecados, ao menos todos os pecados mortais. É necessário, por fim, que ela seja sobrenatural, quer dizer, que tenha por base alguma verdade da Fé: o temor a Deus, que tem o direito de ser obedecido, o amor a Deus que primeiro nos ama, o desejo do Céu pela proximidade com Deus, etc.


Se alguém rouba e depois se arrepende porque está em risco de ser preso, isso não é autêntica contrição, pois se baseia em motivos meramente naturais. A essência da contrição perfeita, pois, é a vontade de afastar-se do pecado


O melhor de tudo, como já foi dito, é que a graça do arrependimento está ao alcance de todos.


Para obtê-la, basta manifestar a Deus com sinceridade de alma o seu pesar por tê-Lo ofendido e o firme propósito de não tornar a pecar.


“A essência da contrição está na alma, na vontade de afastar-se deveras do pecado e converter-se a Deus”, afirma o Padre Johann von den Driesch.


Exemplos de verdadeira contrição



Vejamos um belíssimo exemplo de contrição perfeita, tirado do Evangelho.


No pátio da casa do sumo sacerdote Caifás, São Pedro negou três vezes a Jesus. Em seguida, saiu e “chorou amargamente” (Mt 26, 75).


Por que chorou São Pedro? Se fosse pelo fato de passar vergonha diante dos outros Apóstolos, seria uma dor meramente natural, não existiria verdadeira contrição. Se fosse por medo de ser excluído do Reino de Cristo, ele teria uma contrição autêntica, mas imperfeita.


Ele chorou, porém, por um motivo muito elevado, como diz o Padre von den Driesch: “Pedro arrepende- se e chora, antes de tudo, porque ofendeu a seu amado Mestre, tão bom, tão santo, tão digno de ser amado […].


Tem, pois, verdadeira e perfeita contrição”.


Os Evangelhos nos narram mais um magnífico exemplo de contrição perfeita: o da pecadora que se prostra aos pés de Jesus, banha-os com suas lágrimas, enxuga-os com seus cabelos, beija-os e, por fim, os unge com perfumes. E o Divino Mestre declara que “seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela muito amou” (Lc 7, 47).


A contrição perfeita não desobriga da Confissão


Que pela contrição perfeita o pecador obtém o perdão dos seus pecados antes mesmo de confessar-se é doutrina afirmada no Concílio de Trento (14ª sess., cap. 4).

Entretanto, adverte o mesmo Concílio, ela não dispensa o pecador da necessidade de acusar-se de todos os seus pecados mortais no Sacramento da Confissão e de receber a absolvição do ministro de Deus. De modo que no próprio ato de contrição perfeita deve estar incluído o propósito de confessar-se[2] Quanto tempo depois? É pelo menos muitíssimo aconselhável confessar- se logo que possível.


“Mas é tão difícil ter contrição perfeita!” – poderá alguém pensar.


Puro engano! Para dar-nos essa graça, Deus exige de nós uma atitude bem ao nosso alcance: desejá-la realmente e pedi-la com insistência.


O Padre Johann von den Driesch sugere, entre outras, esta curta oração: “Senhor, dai-me a graça do perfeito arrependimento, da perfeita contrição dos meus pecados”. A quem assim pede, com boa vontade e de coração sincero, Deus não deixará de atender.


Efeitos da contrição perfeita


Mesmo que a prática da contrição perfeita não possibilite o retorno à Comunhão sacramental, antes da Confissão a um sacerdote tão logo quanto possível, para aqueles que cometeram pecado mortal, ainda assim são maravilhosos os efeitos e benefícios que nos obtém, a começar pelo maior deles: a liberação da pena do Inferno. "Só" esse benefício já faria valer a pena sua prática. Vejamos:

A quem é pecador, a contrição perfeita perdoa imediatamente os pecados cometidos, devolvendo- lhe a graça santificante pela qual ele volta a ser filho de Deus, livrando- o das penas do Inferno e restituindo- lhe os méritos perdidos.


Dir-se-á, então, que a contrição perfeita beneficia apenas a quem cometeu pecado mortal. Não é verdade, pois ela robustece o estado de graça naqueles que não o perderam. Cada ato de contrição perfeita aumenta o grau da graça santificante em nossa alma, tornando-a mais formosa aos olhos de Deus!


Eis aí, leitor, um imenso dom que Deus deixou ao nosso alcance. Saibamos bem aproveitar esta dádiva celeste, procurando fazer diariamente muitos atos de contrição perfeita. Pois, além dos benefícios enumerados acima, quem se habitua a fazê-los com freqüência os repetirá, por assim dizer, instintivamente na hora da morte.


Portanto, uma prática benéfica também nos casos de pecados veniais, ou até mesmo quanto às imperfeições. Saibamos aproveitar a imensa bondade do Criador que nos dá essa misericordiosa oportunidade de nos apresentarmos diante d'Ele limpos do pecado!





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Fontes e ref.:
Driesch , Johann von den. A Contrição Perfeita – uma chave de ouro para o Céu, Tip. São Francisco, Bahia, 1913.

Gaudium Prss, 'Uma graça sempre ao nosso alcance', em:

Acesso 26/3/2020.
Revista Arautos do Evangelho, n.84, 12/2008.

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2. Cf. DENZINGER-HÜNERMANN, n. 1677.