A Nosso Senhor coroado de espinhos




Meu Senhor e meu Deus, essa tristeza
E essa angústia imensa e tão serena
Com que fitais, sem medo e sem surpresa,
O ódio que vos julga e vos condena,
A infinita e santa majestade
Que está em vossos olhos refletida,
A incomensurável seriedade
Com que, por nós, Vós dais a vossa vida,
Vossas divinas mãos, assim atadas,
O manto que vos deram, derrisório,
As marcas das selvagens chicotadas
E quanto vos fizeram no Pretório.
Tudo isso, meu Senhor, e essa coroa,
Que vos humilha, mas que vos exalta,
Tudo isso, meu Senhor, que vos magoa,
Nos mostra agudamente o que nos falta.
Pois não sois Vós, Senhor, nosso modelo?
Não foi por nós, Senhor, que assim sofrestes?
Não temos nós na fronte o vosso selo?
E vos faremos nós tal como um destes
Que vos deu muito, sim, mas não deu tudo?
Que vos seguiu, mas não até a cruz?
Que, quando a plebe ruge fica mudo
E quando a noite vem não crê na luz?
Por vossa Mãe, Senhor, não permitais
Que nós durmamos em vossa agonia
E, junto à cruz, Senhor, fazei-nos tais
Que, estando sempre unidos a Maria,
Jamais nos vença a força ou o sarcasmo
Dos que odeiam vossa luz em nós,
Dos que, amando só um torpe marasmo,
Querem calar na nossa a vossa voz.
Fazei-nos tais, Senhor, que a confiança
Nunca se abata em nosso coração,
Sabendo que é a cruz que nos alcança,
Que nos promete e dá a Ressurreição.